Noruega suspende planos de mineração em águas profundas no Ártico
- Gregório Ramon
- 5 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 8 de jan.

Foto: geographical.co.uk
A Noruega anunciou a suspensão temporária dos planos para permitir a mineração submarina em uma área de 280.000 km² de suas águas. A proposta, que abrangeria uma região maior que o Reino Unido, tinha como objetivo explorar metais preciosos e minerais raros, considerados essenciais para tecnologias verdes, como baterias e turbinas eólicas. Contudo, o projeto enfrentou forte oposição interna e internacional, levando o governo a reconsiderar suas ações.
Contexto do Projeto
O governo norueguês, liderado pelo primeiro-ministro Jonas Gahr Støre, havia planejado iniciar o primeiro ciclo de licenciamento para mineração em águas profundas em 2025. O objetivo era aproveitar os vastos recursos minerais encontrados nas profundezas do Mar de Barents e outras áreas adjacentes. A justificativa do governo incluía a necessidade de diversificar a economia nacional e liderar o fornecimento de metais críticos para a transição energética global.
No entanto, a proposta rapidamente atraiu críticas. Cientistas ambientais alertaram que a mineração em águas profundas poderia causar danos irreversíveis à biodiversidade marinha, incluindo ecossistemas pouco estudados e extremamente frágeis. Além disso, as consequências de liberar grandes quantidades de sedimentos durante a extração ainda são amplamente desconhecidas, mas sabe-se que podem impactar negativamente a vida aquática e a cadeia alimentar marinha.
Pressão Política e Ambiental
O Partido Sosialistisk Venstreparti (SV), integrante da coalizão de governo, ameaçou bloquear o orçamento caso o projeto não fosse cancelado. A pressão política interna foi decisiva para a suspensão, já que o apoio do SV é essencial para a aprovação de políticas governamentais no parlamento.
Internacionalmente, 32 países, incluindo França, Canadá, Brasil e Alemanha, expressaram oposição à mineração submarina em uma reunião organizada pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA). Além disso, mais de 100 legisladores da União Europeia enviaram uma carta ao governo norueguês pedindo o abandono do projeto, destacando os riscos para a biodiversidade e o potencial de exacerbação das mudanças climáticas.
Resposta do Governo e Comunidade Científica
O primeiro-ministro Jonas Gahr Støre classificou a decisão como um "adiamento", afirmando que os trabalhos preparatórios, incluindo a análise de regulamentações e estudos de impacto ambiental, continuariam. Apesar disso, a pausa foi considerada uma vitória significativa por organizações ambientais.
Haldis Tjeldflaat Helle, representante do Greenpeace Noruega, criticou duramente a postura inicial do governo:“Foi verdadeiramente constrangedor ver a Noruega se posicionar como líder oceânica, enquanto planejava dar luz verde à destruição dos oceanos em suas próprias águas.”
O Instituto Norueguês de Pesquisa Marinha reforçou as críticas, destacando que os estudos ambientais realizados até agora são insuficientes. A instituição afirmou que seria necessário um período adicional de cinco a dez anos de pesquisas para entender plenamente os impactos da mineração em águas profundas nos ecossistemas marinhos.
Reflexos para o Futuro
A decisão norueguesa reflete um dilema enfrentado por diversas nações: equilibrar a busca por recursos naturais essenciais à transição energética com a necessidade de proteger o meio ambiente. A mineração submarina é vista por alguns como uma solução promissora para o fornecimento de metais raros, mas os riscos ambientais continuam a levantar preocupações globais.
A suspensão do projeto pode servir como um exemplo para outras nações que consideram explorar as profundezas oceânicas. Com a crescente oposição à mineração em águas profundas, a Noruega terá que decidir se continuará investindo em um setor amplamente contestado ou se buscará alternativas mais sustentáveis para atender à demanda por recursos minerais.
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