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Cientistas descobrem 27 novas espécies durante expedição no Peru

  • Caio Neuenschwander
  • 6 de jan.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 10 de jan.



Uma expedição realizada na região de Alto Mayo, localizada no noroeste do Peru, resultou na identificação de 27 novas espécies que ainda não haviam sido descritas pela ciência. A equipe de cientistas catalogou quatro espécies de mamíferos, oito de peixes, três de anfíbios, dez de borboletas e duas de besouros. Durante os 38 dias da pesquisa, mais de 2.000 espécies de fauna e flora foram registradas, evidenciando a notável biodiversidade da região.


Apesar da alta densidade populacional humana e das crescentes ameaças ambientais, como desmatamento e expansião agrícola, a região demonstrou um ecossistema incrivelmente diverso. Segundo o Dr. Trond Larsen, diretor sênior de biodiversidade e ciências de ecossistemas no Moore Centre for Science da Conservation International, a riqueza de espécies foi uma surpresa, especialmente considerando a história de alterações no uso da terra e degradação ambiental em Alto Mayo.


“A paisagem de Alto Mayo sustenta cerca de 280.000 pessoas em cidades, vilas e comunidades. Com uma longa história de mudanças no uso do solo e degradação ambiental, fiquei muito surpreso ao encontrar uma riqueza tão elevada de espécies, incluindo muitas novas, raras e ameaçadas, muitas das quais podem ser encontradas apenas nesta região”, afirmou Larsen.


Principais Espécies Descobertas

Entre as novas espécies descritas estão quatro mamíferos: um rato espinhoso, um morcego frugívoro de cauda curta, um esquilo anão e um rato semi-aquático. A descoberta do rato anfíbio foi uma das mais notáveis e empolgantes da expedição. Larsen explicou que esse rato pertence a um grupo de roedores carnívoros e semi-aquáticos, cujas espécies são extremamente raras e difíceis de coletar, o que lhes confere um status quase mítico entre os especialistas em mamíferos. “Encontramos esse rato anfíbio apenas em uma única e peculiar área de floresta pantanosa ameaçada pela agricultura. Provavelmente, ele não existe em nenhum outro lugar”, acrescentou Larsen.


O esquilo anão, que mede cerca de 14 cm, foi descrito como uma criatura extremamente ágil e difícil de avistar na densa floresta tropical. Outra descoberta marcante foi uma nova espécie de salamandra arbórea, encontrada a cerca de um metro do chão em uma pequena porção de floresta de areia branca. Segundo Larsen, a salamandra possui pequenas pernas robustas e uma coloração marrom-acinzentada.


Uma das descobertas mais intrigantes foi o peixe apelidado de “cabeça de bolha”, que possui uma extensão semelhante a uma bolha na extremidade de sua cabeça. Embora a função dessa estrutura ainda não tenha sido completamente compreendida, Larsen especula que ela possa estar relacionada a órgãos sensoriais, controle de flutuabilidade, armazenamento de gordura ou até mesmo a estratégias de forrageamento.


Biodiversidade Ameaçada e Esforços de Conservação

Além das espécies nunca antes descritas, a expedição documentou 49 espécies consideradas ameaçadas pela Lista Vermelha da IUCN, incluindo dois macacos criticamente ameaçados (o macaco-lanoso-de-cauda-amarela e o macaco-de-san-martin) e dois pássaros em perigo de extinção (o picapauzinho-peitoral-malhado e a corujinha-de-bigode).


O levantamento foi realizado entre junho e julho de 2022, utilizando tecnologias como armadilhas fotográficas, sensores bioacústicos e DNA ambiental (eDNA) coletado em rios e outras fontes de água. A equipe contou com 13 cientistas, incluindo pesquisadores peruanos da Global Earth, além de sete assistentes técnicos com vasto conhecimento tradicional, pertencentes à Federação Regional Indígena das Comunidades Awajún do Alto Mayo (Feriaam).



Do total de 2.046 espécies registradas, pelo menos 34 parecem ser endêmicas da paisagem de Alto Mayo ou da região de San Martin. Algumas dessas espécies, embora não descritas cientificamente, eram já conhecidas pelas comunidades indígenas locais.


O Conhecimento Tradicional Como Aliado da Ciência

Yulisa Tuwi, membro da comunidade Awajún que participou das pesquisas focadas em répteis e anfíbios, destacou a importância do conhecimento tradicional na exploração da biodiversidade local. “Como povo Awajún, temos muito conhecimento sobre nosso território. Sabemos o valor de nossas plantas, como elas nos curam e alimentam, e conhecemos caminhos dentro da floresta que nos levaram a encontrar diferentes animais”, afirmou.


Tuwi também ressaltou que, embora muitas dessas espécies ainda não tenham nomes científicos, as comunidades já as classificam de acordo com suas utilidades e comportamentos na natureza. Segundo ela, as descobertas são mais significativas para a ciência do que para as comunidades locais, que já convivem com essas espécies e as conhecem de outras formas.


Perspectivas Futuras

Os pesquisadores esperam que os resultados dessa expedição sirvam de base para fortalecer os esforços de conservação na região. Planos estão sendo discutidos para criar uma rede de áreas protegidas locais, garantindo a preservação das espécies e dos ecossistemas de Alto Mayo. Com a colaboração entre cientistas e comunidades indígenas, a expedição reforça a importância de unir conhecimentos tradicionais e científicos na busca pela proteção da biodiversidade.

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